segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Idéia Fixa


"Deus te livre, leitor, de uma idéia fixa; antes um argueiro, antes uma trave no olho."



Porque uma idéia fixa é um tormento na vida de uma pessoa.

Apesar disso, deixo que elas não me abondonem e continuem me atormentando, porque minhas idéias fixas têm a mania boba de deixarem de ser idéias para se tornarem fatos (as que dependem de mim, claro, porque com 10 anos eu botei na cabeça que queria um teclado e meu pai disse: "se tu passar pra sexta série, o pai te dá". Passei pra sexta, pra sétima, pra oitava... tô até na faculdade, e nada...).

Esse ano foi até bom, tenho uma pequena lista de idéias fixas concretizadas. Mas me apareceu uma nova. E grande. E desafiadora. E eu tenho pra dizer que eu não tenho medo dela. E ela que se bobeie comigo pra ver se não acabo com ela antes do que ela imagina.

Me lembro que uma vez eu pedi uma bicicleta de Natal. No Natal anterior meus irmãos tinham ganhado uma, cada um. Eu também queria! Bem, não deu naquele Natal, nem no outro. Depois eu já era grande, não quis mais bicicleta. Mais tarde eu quis uma moto...

Quando eu saí do colégio e quis entrar na estadual, me disseram que nem prestasse vestibular, que mesmo sendo universidade pública, seria caro me manter estudando. Pois bem, eu queria estudar. Demorou um pouco, e o 'caro' (que minha bolsa não cobre xerox nem vale transporte), deixa que eu pago!

O emprego público eu nem quis tanto, eu só queria um emprego novo. Mas já que não especifiquei...!

Tá, eu também quis que a moto fosse 07/07, que o curso de graça fosse Letras e que o salário novo fosse maior, mas isso foi brinde!

"(...)e, tornando à idéia fixa, direi que é ela a que faz os varões fortes e os doidos (...)"

Bom, doida ainda não sou. Sobrou ser forte, mesmo com essa carinha de boba que Deus me deu...



(colaboração póstuma: Brás Cubas, de Machado de Assis!)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Contrastes

Pois eis que me sento no banco da praça, no Centro de Novo Hamburgo, para esperar do meio dia até à uma e meia, mais para descansar do que para passar o tempo, quando um senhor de uns setenta anos vem e senta no outro banco, de frente para mim. Até aí tudo bem, e tudo bem no resto também, que isso de certo e errado não me agrada mesmo.

Eu, àquela hora, quase chorando em plena praça por pensar demais.

Ele vem, senta, abre a caixa de sapato que tirou de dentro de uma sacola, tira de dentro um par de tênis novos, descalça os que estava usando, calça os novos, e ali fica, num ritual de uns quinze minutos, a testar os novos tênis, dando voltas de um lado para o outro, pisando firme, decerto para ver se o amortecimento funciona como o do tenis velho (tinha que funcionar, eram idênticos, até a cor).

Eu, pensando o quanto bom deveria ser ter uma preocupação daquelas. Tanto tempo pra provar um calçado que já deveria ter sido provado na loja onde foi comprado.

Os cadarços não estavam bons. Ele senta, desamarra os laços (que eu diria topes!), mede, solta, arruma, mede de novo... agora sim. Os lados do cadarço do mesmo tamanho, ele refaz os topes e vai de novo testar o caminhar.

Tá certo, meu vô faria a mesma coisa, talvez. Manias...

Teste feito. Deve ter aprovado, não vi nenhuma cara de desgosto nele! pegou de cima do banco o par velho, limpou-os como podia, colocou dentro da caixa, no lugar dos novos, e ficou mais um minuto a ajeitar a embalagem nova com o sapato velho dentro.

Eu pensando em tudo que eu tinha pra pensar e vendo aquela cena, no mínimo maravilhosa, bem na minha frente.

Saiu, olhando para os próprios pés.

Fiquei, olhando pra dentro de mim...